sexta-feira, 12 de julho de 2013

Morreu Adriano Gonçalves, BANA

Este blog foi criado para falar das “coisas culturais” de Santo Antão.
Hoje vejo-me obrigado a abrir um “parêntesis” para falar do Bana, um cantor cuja grandeza ultrapassa a barreira do mar que nos limita e chega a todas as 10 ilhas de Cabo Verde (portanto, também a Santo Antão) e à diáspora.
Assim, com a devida vénia (e autorização), reproduzo aqui um belo texto do jovem jornalista Benvindo Chantre Neves, publicado no seu blog “Sinta 10”, em 11 de Março de 2008, reportando um espectáculo do Bana no Auditório Nacional, na cidade da Praia.
A palavra para o Benvindo Chantre Neves:

Afinal, o talentoso é também um busód

Quem há alguns meses lia as notícias sobre o estado de saúde do Bana em Lisboa, certamente não pensou que, hoje, passado pouco tempo, o artista pudesse estar de volta aos palcos com tanto fulgor, talento e, acima de tudo, boa disposição.
Pois é, o Auditório Nacional Jorge Barbosa, na Praia, recebeu ontem um memorável concerto. Bana, ao seu grande estilo, empolgou uma assistência que ao longo de mais de uma hora aplaudiu sem parar este colosso da nossa música.
Era a primeira vez que assistia a um concerto desse gigante da música nacional, ao vivo. Um grande privilégio!
Cantar é, sem dúvida, aquilo que melhor sabe o GIGANTE fazer. Isso não constitui novidade para ninguém. Só não sabia que, para além de encantar a cantar, Bana encanta com a sua forma de estar no palco. Ontem ele revelou ser uma pessoa muito comunicativa e bastante busód. Com um sentido de humor apurado, Bana fazia o público soltar umas boas gargalhadas cada vez que a ele se dirigisse.
O ínício foi emocionante: entrou no palco a interpretar a eterna "Lena" e quando terminou, pediu desculpas por "ca ter cumprimentód antes". De seguida lembrou os momentos difíceis por que passara meses antes e agradeceu "aos médicos, ao povo cabo-verdiano e ao governo de Cabo Verde." Por essa altura, comovido, quase deixou verter algumas lágrimas. O público aplaudiu com emoção e Bana retribuiu com mais uma morna imortal.
Numa noite de grandes mornas e coladeiras, Bana recebeu o carinho de um público maravilhoso que cantava junto com o mestre, apaludia sempre e, de vez em quando, uma ou outra voz se ecoava no meio da noite a pronunciar frases de admiração e estima. Por exemplo, a uma dada altura, na ligação de uma música a outra Bana, ao expressar algumas palavras, fez umas reticências "mim é.... ". Logo um grito soltou "... bo é um Património". Bana completou "é verdade, um património."
Mas foram muitos os momentos sublimes (aliás assim foi todo o concerto). Eis mais alguns momentos que resgitámos:
·                Na morna Lora Bana chamou uma jovem e fizeram dueto. A menina foi corajosa, mas passou no teste;
·                Na coladeira mexê mexê Bana esboçou um pé de dança e o auditório entrou em delírio. Que ovação!;
·                Antes de interpretar Maria Bárbara Bana dedicou essa morna a uma criança desconhecida que através de um terceiro lhe tinha enviado um recado: "iria ao concerto só para o ouvir cantar Maria Bárbara";
·                Na parte final, Bana diz: "ja'm ti te bem dá más só 2 muzca: um é pa cabá, ot é pa consolá"(...) e'm tem 5 minuto pa'm pensá que música ti te bem ftchá bsot ess not". Esta foi mais uma tirada de humor que deixou a plateia dodu;
·                E para acabar mesmo, Bana despediu desta forma: "bsot é maravilhoso, bsot é estrondoso... mas... mim também e'm ca ta fcá pa trás"
Enfim... momentos desses são raros neste país de música. Está de parabéns quem teve a ideia de voltar a trazer o Grande para o Auditório, desta vez não para interpretar apenas 4 músicas, felizmente. O concerto de ontem mostrou que o público, seja ele da Praia, de Soncnet, Sintanton, Fogo, Brava... está sedente de mais eventos culturais.
Parece que o Auditório Nacional - até bem pouco tempo tido como um autêntico Elefante Branco, começa a ganhar alguns pigmentos diferentes... digamos mais naturais. Que venham agora outros artistas: Cesária Évora, Tito Paris e a sua Orquestra (o tal sonho), Tcheca, Princezito, Teatro, dança... pelo menos tud fim-de-seman um evento, hehehehe (sonhar é bom).
Hah, em jeito de basofaria: a última música da noite, a tal consolança, foi Fitche Fatche na Tracolança. Música que relata um "fitche fatche" na Ponta do Sol, vila sintadezense.





1 comentário:

  1. Obrigado caro Homero
    este blog é uma excelente iniciativa para a valorização da cultura de nos GRANDE ILHA. Continua, virei cá sempre e quando puder darei meu contributo, sempre na perspectiva de colocar nossa Ilha na Ribalta.

    Adelante!
    Benvindo

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