sábado, 27 de julho de 2013

Agora… Eu!

Na música, considero-me “filho de peixe” pois o pai era músico e, durante muitos anos, foi organista da paróquia de Nossa Senhora do Rosário, em Ribeira Grande, Santo Antão.
Por isso, muito cedo chegou-me a música aos ouvidos e à minha forma de sentir o mundo, tendo começado a sonhar com uma carreira musical ainda adolescente.
Os rasgados elogios à minha voz convenceram-me a participar no concurso de vozes “TODO O MUNDO CANTA”, em 1984. Tendo ficado classificado em primeiro lugar no concurso regional (na então Vila da Ribeira Grande) ganhei o “passaporte” para a fase nacional que teve lugar na cidade da Praia. Na capital voltei a classificar-me em primeiro lugar nas meias-finais, garantindo assim um lugar entre os seis primeiros classificados a nível nacional.
Ainda em 1984 integrei o conjunto Musical “ARCO-IRIS”, de Santo Antão, na qualidade de “vocalista”, com Adriano, Jon Bifai, Russo, Tchik-tchak, Domingos, Carinha e, posteriormente, Katcháss. Nesse grupo actuei em todos os palcos da ilha das montanhas, participei numa digressão do grupo à Holanda e ao Luxemburgo, além de uma presença no Festival da Baía das Gatas.
Dois anos depois, em 1986, voltei a participar no “TODO O MUNDO CANTA” e repeti o sucesso da primeira participação, classificando-me entre os seis melhores candidatos que participaram no certame, em todo o país.
Foi nessa altura que nasceu o sonho de gravar um disco com as músicas que falam das diversas localidades da ilha de Santo Antão, cuja concretização (devido a várias dificuldades, sobretudo financeiras) só foi possível cerca de 15 anos depois.
Graças a Deus, esse trabalho (o CD “MORNAS DE SANTO ANTÃO”) resultou num estrondoso sucesso e esgotou-se rapidamente no mercado nacional, pelo que uma segunda edição está à disposição do público, tanto em Cabo Verde, como em Portugal, no Luxemburgo, na Holanda, na Itália, e nos Estados Unidos da América.
Ultimamente, tenho participado em concertos em vários palcos de Cabo Verde (Palácio da Cultura – Praia, MindelHotel e Hotel Porto Grande – S. Vicente, Comemorações das festas municipais na Ribeira Grande e no Paul, outros hotéis e Pub’s), para só citar alguns.
Actuei também nas festas municipais em Ponte de Sôr e em Torres Novas, Portugal, sem esquecer a participação nas anteriores edições do Festival “Sete Sóis Sete Luas” e fui uma das presenças musicais de destaque na Semana Cultural de Santo Antão, realizada no Luxemburgo, tendo actuado nas cidades de Ettelbruck, Differdange e Luxemburgo Ville.
O mais recente trabalho que tenho no mercado é um DVD intitulado “SANTO ANTÃO – Paisagem & Melodia” que integra os clip's de todas as músicas do projecto MORNAS DE SANTO ANTAO, com imagens que “cantam” a extraordinária beleza das paisagens da ilha de Santo Antão.
Já tenho na forja um novo trabalho discográfico, pelo que espero entrar em estúdio, muito em breve.

Estou no facebook com uma página oficial no endereço: ttps://www.facebook.com/pages/Homero-Fonseca/139505772787089?ref=hl

terça-feira, 16 de julho de 2013

BANA (poema do Picau)

                  B A N A
Lua raiá na céu
Soncent intêr tchorá
Cab Verde enlutá
Nação cabo-verdiana soluçá

B. Léza, Manel de Novas, Luis Morais, Ti Goy, Frank Cavaquim
Elegê Bana como porta-voz
Pa spaiá na mund alma cabo-verdiana

Bana abraçá ess proposta el cantá
Nôs terra,
Nôs amdjer
Nôs partida
Nôs dor e sofrimento
Nôs luta e nos esperança

Na hora de partida
Bana, com emoção,
Manifestá sê último desejo
“Ca boçês tchá morrê
Folklore de nôs terra”


PIKAU (Café Lisboa, 15/07/2013)

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Morreu Adriano Gonçalves, BANA

Este blog foi criado para falar das “coisas culturais” de Santo Antão.
Hoje vejo-me obrigado a abrir um “parêntesis” para falar do Bana, um cantor cuja grandeza ultrapassa a barreira do mar que nos limita e chega a todas as 10 ilhas de Cabo Verde (portanto, também a Santo Antão) e à diáspora.
Assim, com a devida vénia (e autorização), reproduzo aqui um belo texto do jovem jornalista Benvindo Chantre Neves, publicado no seu blog “Sinta 10”, em 11 de Março de 2008, reportando um espectáculo do Bana no Auditório Nacional, na cidade da Praia.
A palavra para o Benvindo Chantre Neves:

Afinal, o talentoso é também um busód

Quem há alguns meses lia as notícias sobre o estado de saúde do Bana em Lisboa, certamente não pensou que, hoje, passado pouco tempo, o artista pudesse estar de volta aos palcos com tanto fulgor, talento e, acima de tudo, boa disposição.
Pois é, o Auditório Nacional Jorge Barbosa, na Praia, recebeu ontem um memorável concerto. Bana, ao seu grande estilo, empolgou uma assistência que ao longo de mais de uma hora aplaudiu sem parar este colosso da nossa música.
Era a primeira vez que assistia a um concerto desse gigante da música nacional, ao vivo. Um grande privilégio!
Cantar é, sem dúvida, aquilo que melhor sabe o GIGANTE fazer. Isso não constitui novidade para ninguém. Só não sabia que, para além de encantar a cantar, Bana encanta com a sua forma de estar no palco. Ontem ele revelou ser uma pessoa muito comunicativa e bastante busód. Com um sentido de humor apurado, Bana fazia o público soltar umas boas gargalhadas cada vez que a ele se dirigisse.
O ínício foi emocionante: entrou no palco a interpretar a eterna "Lena" e quando terminou, pediu desculpas por "ca ter cumprimentód antes". De seguida lembrou os momentos difíceis por que passara meses antes e agradeceu "aos médicos, ao povo cabo-verdiano e ao governo de Cabo Verde." Por essa altura, comovido, quase deixou verter algumas lágrimas. O público aplaudiu com emoção e Bana retribuiu com mais uma morna imortal.
Numa noite de grandes mornas e coladeiras, Bana recebeu o carinho de um público maravilhoso que cantava junto com o mestre, apaludia sempre e, de vez em quando, uma ou outra voz se ecoava no meio da noite a pronunciar frases de admiração e estima. Por exemplo, a uma dada altura, na ligação de uma música a outra Bana, ao expressar algumas palavras, fez umas reticências "mim é.... ". Logo um grito soltou "... bo é um Património". Bana completou "é verdade, um património."
Mas foram muitos os momentos sublimes (aliás assim foi todo o concerto). Eis mais alguns momentos que resgitámos:
·                Na morna Lora Bana chamou uma jovem e fizeram dueto. A menina foi corajosa, mas passou no teste;
·                Na coladeira mexê mexê Bana esboçou um pé de dança e o auditório entrou em delírio. Que ovação!;
·                Antes de interpretar Maria Bárbara Bana dedicou essa morna a uma criança desconhecida que através de um terceiro lhe tinha enviado um recado: "iria ao concerto só para o ouvir cantar Maria Bárbara";
·                Na parte final, Bana diz: "ja'm ti te bem dá más só 2 muzca: um é pa cabá, ot é pa consolá"(...) e'm tem 5 minuto pa'm pensá que música ti te bem ftchá bsot ess not". Esta foi mais uma tirada de humor que deixou a plateia dodu;
·                E para acabar mesmo, Bana despediu desta forma: "bsot é maravilhoso, bsot é estrondoso... mas... mim também e'm ca ta fcá pa trás"
Enfim... momentos desses são raros neste país de música. Está de parabéns quem teve a ideia de voltar a trazer o Grande para o Auditório, desta vez não para interpretar apenas 4 músicas, felizmente. O concerto de ontem mostrou que o público, seja ele da Praia, de Soncnet, Sintanton, Fogo, Brava... está sedente de mais eventos culturais.
Parece que o Auditório Nacional - até bem pouco tempo tido como um autêntico Elefante Branco, começa a ganhar alguns pigmentos diferentes... digamos mais naturais. Que venham agora outros artistas: Cesária Évora, Tito Paris e a sua Orquestra (o tal sonho), Tcheca, Princezito, Teatro, dança... pelo menos tud fim-de-seman um evento, hehehehe (sonhar é bom).
Hah, em jeito de basofaria: a última música da noite, a tal consolança, foi Fitche Fatche na Tracolança. Música que relata um "fitche fatche" na Ponta do Sol, vila sintadezense.





Walter “Zuzu” Tavares Silva lança “Adeus Ildo”

O artista santantonense Walter Jesus Tavares Silva, “Zuzu”, lançou hoje, na Internet, a sua primeira gravação discográfica, um single intitulado “Adeus Ildo”.
“É uma música com grande significado para mim por ser um tributo ao meu Ídolo, Ildo Lobo” diz Zuzú na sua página do facebook, satisfeito por ter conseguido divulgar o tributo composto por ocasião do desaparecimento do cantor Ildo Lobo.
A composição foi gravada no estúdio do pianista Humberto Ramos que se ocupou dos arranjos e orquestração de “Adeus Ildo” que, gravado em 2006, “vê a luz do dia” sete anos depois, mas com grande satisfação de Zuzu Tavares Silva.
Walter de Jesus Tavares Silva, por todos conhecido pela alcunha de Zuzú de nha Tanha, é músico e compositor, autor de algumas composições carnavalescas além de várias mornas e coladeiras que, contudo, não foram ainda popularizadas pelos intérpretes da nossa praça.
Zuzú vive em São Vicente, onde trabalha no INDP, e já tem mais quatro músicas gravadas para o seu primeiro CD, embora não tenha ainda data para o seu lançamento sobretudo porque a “crise” tem servido para afastar os potenciais mecenas apesar da lei que os beneficia fortemente.
Zuzú disse-nos que “Adeus Ildo” deverá servir com a sua “rampa de lançamento” mas, em princípio não deverá constar do CD que já tem em preparação juntamente com Humberto Ramos.
“Adeus, Ildo” pode ser escutado e, livremente, copiado no youtube na localização http://www.youtube.com/watch?v=8eiwAjG-LrE.
Humberto Ramos, arranjador e orquestrador de “Adeus Ildo” escreve o seguinte:


O Walter foi-me apresentado pelo Vicente D. Neves-Tchenta e desde o primeiro dia, que o ouvi a cantar, que questiono, porque ele não é mais apoiado? Será que ele não tem nenhum lobbie? Esteve comigo em Lisboa e fizemos algumas apresentações e todas as pessoas que o ouviam ficavam admiradas porque nunca tinham ouvido falar dele...porque será? Mas acredito que um dia ele conseguirá atingir o lugar merecido por ser portador desta grande voz que nos lembra as velhas serenatas quando ainda não havia microfones (nem autotunes)”.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Escola Municipal de Iniciação Musical arranca a 01 de Outubro na Ribeira Grande

A Escola Municipal de Iniciação Musical, promovida pela Câmara Municipal da Ribeira Grande, deverá abrir portas a partir de 01 de Outubro, conforme previsão que o vereador da Cultura, Francisco Dias, apresentou à Inforpress.
A opção foi arrancar com a formação de formadores como forma de garantir professores para essa escola e, com a parceria da Câmara Municipal de Ponte de Sôr, Portugal, um grupo de pessoas que participaram na primeira acção de formação ministrada por uma professora de música vinda de Portugal para o efeito.
Durante 30 dias a formadora portuguesa ministrou um curso intensivo a esse grupo de 26 participantes, todos executantes de algum instrumento musical ou de alguma outra forma ligados à música.
Francisco Dias disse que a próxima formação, que continua para esse mesmo grupo de pessoas, vai privilegiar, além da teoria musical, o ensino dos instrumentos de sopro já que a ideia é aproveitar essa escola para a criação de uma Banda Municipal.

A próxima acção de formação deverá arrancar dentro de 15 dias a um mês, mas o vereador disse à Inforpress que a professora portuguesa estará em Santo Antão, também, em Outubro para ajudar na instalação da Escola Municipal de Iniciação Musical.


quinta-feira, 4 de julho de 2013

Batchinha, construtor de tambores tradicionais

Chama-se Sebastião João Monteiro mas é conhecido por “Batchinha”, o homem de 56 anos de idade que confecciona um dos elementos mais importantes das festas de romaria na ilha de Santo Antão, o tambor.
Hoje em dia poucos são aqueles que conhecem esta arte e, por isso, (quase) toda a gente recorre aos tambores do Batchinha para tocar nas festas de Santo António (Paul), São João Baptista (Porto Novo) e São Pedro Apóstolo (Chã de Igreja).
Os tambores são o meu ganha-pão desde 1994 (19 anos)” afirma Batchinha adiantando que “é um bom negócio porque a procura é boa e é preciso ter tambores em ‘stock’ para poder satisfazer a demanda”, explicou o homem dos tambores.
“Esta tradição estava morta mas eu consegui recuperá-la” diz orgulhoso o mestre Batchinha manifestando-se “satisfeito por ver tantos tambores na festa de São Pedro”, muitos dos quais feitos por ele.
Tudo começou com alguns arranjos pontuais, “pessoas que pediam ajuda para consertar alguma peça do tambor” eventualmente danificada, e quando recebeu uma encomenda de tambores para o estrangeiro entendeu que, afinal, podia estar aí uma fonte de rendimento.
Batchinha fala de Lela Miranda que foi seu parceiro dos primeiros tempos mas hoje trabalha sozinho e tem demanda suficiente para se dedicar exclusivamente a uma arte que vai aprimorando a cada dia.
“Continuo a aprender”, admite o mestre Batchinha com humildade mas exibindo uma peça de rara beleza.

O preço varia entre os cinco mil e os 20 mil escudos cada tambor, dependendo do tamanho e do acabamento.