A ilha de Santo Antão, outrora
fértil em manifestações culturais, vai perdendo algumas das suas mais
importantes tradições, umas de forma irreversível e outras que alguns “carolas”
tentam, a todo o custo, recuperar.
É o caso das fogueiras de São
João, no campo de futebol do Tarrafal, na cidade da Ribeira Grande, uma
tradição que “morreu” com a antiga promotora Ana Maria da Conceição (Nhé Nica
de Meri de Rosér como era por todos conhecida, ou simplesmente “Mé Nica” para
os netos e outros familiares), mas que um grupo de pessoas quer, agora,
“ressuscitar”.
“Esta iniciativa surgiu de uma
conversa entre um grupo de amigos que, à volta de uma cerveja, sentiu a
necessidade de revitalizar esta tradição” explica João Salomão, um dos
promotores da iniciativa, adiantando que o objectivo “é não deixar perder uma
tradição que foi seguida por anteriores gerações de ribeira-grandenses desde
tempos de que não há memória”.
Se bem o pensaram melhor o
fizeram e a tradição das fogueiras de São João regressou ao campo do Tarrafal
desde o ano passado com o envolvimento de várias pessoas que integram esse
grupo promotor que potencia, não só as fogueiras para as pessoas saltarem no
campo, mas também o desfile à volta da Igreja e um jantar servido a todos os
participantes.
Homens e mulheres, essencialmente
jovens mas não só, profissionais de diversas áreas, arriscam o salto por entre
as labaredas das fogueiras alimentadas por lenha de madeira (já houve uma
tentativa, felizmente descartada, de utilização de pneus) mas que este ano
estava verde e tinha de ser, a espaços, reavivada com um pouco de gasolina.
O rufar dos tambores, produzido
por um grupo dirigido por Luciano Chantre e Ká (também eles membros do grupo
dinamizador) fazia mexer o corpo a todos os que marcaram presença na festa para
saltar à fogueira, para “colá Son Jon” ou simplesmente marcar o ritmo.
Tradição junina “quase” em vias
de extinção é, também, o São João na zona de Corda onde, outrora, as pessoas
das diferentes ribeiras do concelho da Ribeira Grande se concentravam para esperar
a chegada dos peregrinos e “fugidos” que se deslocavam ao Porto Novo para as
cerimónias religiosas e para pagarem promessas ao Santo.
Hoje, com a estrada Janela/Porto
Novo o acesso à cidade do Porto Novo ficou mais facilitado, via estrada nova, e
os condutores não usam mais a estrada da montanha o que faz diminuir o número
de pessoas na festa da zona de Corda.
As festas de meio percurso (São
João na Corda, Santo António em Mão-para-Trás e São Pedro em Boca de
Ambas-as-Ribeiras) tendem a desaparecer vítimas do progresso que facilitou o
acesso aos locais originais dessas festas, como são os casos da festa de São
João, no Porto Novo, tida como a maior festa de romaria do país, e da de Santo
António das Pombas, no Paul, que não lhe fica “muito” atrás.
Boa iniciativa do grupo dinamizador.
ResponderEliminarReativar esse evento cultural e transmiti-lo aos mais jovens e de modo a conservar essa tradição que nos deu muito prazer e alegria, muitos anos atrás.