As festas da Páscoa continuam a
ser vividas com tradições únicas no concelho da Ribeira Grande, embora com
menos pujança do que noutros tempos.
Os jovens aderem cada vez menos
às antigas tradições e o consumismo importado de outras paragens trouxe valores
que pouco se adequam ao “esprito” da celebração pascal e à forma de viver das
gentes do concelho.
No plano religioso, a procissão
de “Salvé” é uma das tradições que só se vivem na cidade da Ribeira Grande e
está, cada dia, menos concorrida.
Trata-se de uma devoção à Virgem
Maria, que começa na Igreja Matriz até à capela de Nossa Senhora da Penha, na
Penha de França, onde os fiéis beijam a coroa da Santa, invocada como Rainha do
Céu e da Terra, e regressa à Igreja Matriz onde é celebrada a eucaristia vespertina.
Tradição, igualmente única no
concelho da Ribeira Grande, é a “Coroa de Cristo”, uma antiga devoção cuja
origem não é conhecida das pessoas no concelho, mesmo as mais idosas.
“Não posso precisar mas presumo
que a devoção da ‘Coroa de Cristo’ tenha sido introduzida pelo Cónego Júlio
José Delgado, aquando da sua chegada à ilha, nos anos 20 do século passado”
disse-nos Veríssimo Ribeiro, 90 anos de idade.
A “Coroa de Cristo”, explica
Ribeiro, é um terço cantado em que se recordam os momentos da “via sacra”.
No aspecto gastronómico é que o
consumismo mais se faz sentir, sobretudo com a introdução do “ovo da Páscoa”,
feito de chocolate, para substituir o tradicional “fongo da Páscoa” presente na
mesa dos santantonenses de épocas passadas mas que continua a ser tradição
cumprida por alguns saudosos que teimam em manter valores de outros tempos.
“Eu continuo a fazer o ‘fongo da
Páscoa’ todos os anos e conheço muita gente que também faz” afirma José Pedro
Oliveira, gastrónomo e empresário do turismo e restauração, autor de um livro
de receitas da culinária típica da ilha de Santo Antão.
José Pedro Oliveira explica que o
“fongo da Páscoa” é confeccionado com uma massa homogénea feita com farinha de
milho, batata doce cozida, banana madura, açúcar a gosto e ervas aromáticas,
que, depois de embrulhado em folhas de bananeira, é levado a assar nas cinzas
(rescaldo) dos alambiques.
Quaisquer que sejam as tradições,
pujantes ou nem por isso, para os cristãos a páscoa será sempre “a comemoração
da morte e ressurreição de Jesus Cristo que, com esses acontecimentos, cumpriu
o plano que Deus traçou para a Salvação da humanidade”, dizem os fiéis
católicos.