Este blog foi criado para falar das “coisas culturais”
de Santo Antão.
Hoje vejo-me obrigado a abrir um “parêntesis” para
falar do Bana, um cantor cuja grandeza ultrapassa a barreira do mar que nos
limita e chega a todas as 10 ilhas de Cabo Verde (portanto, também a Santo
Antão) e à diáspora.
Assim, com a devida vénia (e autorização), reproduzo
aqui um belo texto do jovem jornalista Benvindo Chantre Neves, publicado no seu
blog “Sinta 10”, em 11 de Março de 2008, reportando um espectáculo do Bana no
Auditório Nacional, na cidade da Praia.
A palavra para o Benvindo Chantre Neves:
“Afinal, o talentoso é também um busód
Quem há alguns
meses lia as notícias sobre o estado de saúde do Bana em Lisboa, certamente não
pensou que, hoje, passado pouco tempo, o artista pudesse estar de volta aos
palcos com tanto fulgor, talento e, acima de tudo, boa disposição.
Pois é, o
Auditório Nacional Jorge Barbosa, na Praia, recebeu ontem um memorável
concerto. Bana, ao seu grande estilo, empolgou uma assistência que ao longo de
mais de uma hora aplaudiu sem parar este colosso da nossa música.
Era a primeira
vez que assistia a um concerto desse gigante da música nacional, ao vivo. Um
grande privilégio!
Cantar é, sem
dúvida, aquilo que melhor sabe o GIGANTE fazer. Isso não constitui novidade
para ninguém. Só não sabia que, para além de encantar a cantar, Bana encanta
com a sua forma de estar no palco. Ontem ele revelou ser uma pessoa muito
comunicativa e bastante busód. Com
um sentido de humor apurado, Bana fazia o público soltar umas boas gargalhadas
cada vez que a ele se dirigisse.
O ínício foi
emocionante: entrou no palco a interpretar a eterna "Lena" e quando
terminou, pediu desculpas por "ca
ter cumprimentód antes". De seguida lembrou os momentos
difíceis por que passara meses antes e agradeceu "aos médicos, ao povo
cabo-verdiano e ao governo de Cabo Verde." Por essa altura, comovido,
quase deixou verter algumas lágrimas. O público aplaudiu com emoção e Bana
retribuiu com mais uma morna imortal.
Numa noite de
grandes mornas e coladeiras, Bana recebeu o carinho de um público maravilhoso
que cantava junto com o mestre, apaludia sempre e, de vez em quando, uma ou
outra voz se ecoava no meio da noite a pronunciar frases de admiração e estima.
Por exemplo, a uma dada altura, na ligação de uma música a outra Bana, ao
expressar algumas palavras, fez umas reticências "mim é.... ".
Logo um grito soltou "... bo é um Património". Bana
completou "é verdade, um património."
Mas foram
muitos os momentos sublimes (aliás assim foi todo o concerto). Eis mais alguns
momentos que resgitámos:
·
Na morna Lora Bana
chamou uma jovem e fizeram dueto. A menina foi corajosa, mas passou no teste;
·
Na coladeira mexê
mexê Bana esboçou um pé de dança e o auditório entrou em delírio. Que
ovação!;
·
Antes de
interpretar Maria Bárbara Bana dedicou essa morna a uma
criança desconhecida que através de um terceiro lhe tinha enviado um recado:
"iria ao concerto só para o ouvir cantar Maria Bárbara";
·
Na parte
final, Bana diz: "ja'm ti te
bem dá más só 2 muzca: um é pa cabá, ot é pa consolá"(...) e'm tem 5
minuto pa'm pensá que música ti te bem ftchá bsot ess not". Esta
foi mais uma tirada de humor que deixou a plateia dodu;
·
E para acabar
mesmo, Bana despediu desta forma: "bsot
é maravilhoso, bsot é estrondoso... mas... mim também e'm ca ta fcá pa
trás"
Enfim...
momentos desses são raros neste país de música. Está de parabéns quem teve a
ideia de voltar a trazer o Grande para o Auditório, desta vez não para
interpretar apenas 4 músicas, felizmente. O concerto de ontem mostrou que o
público, seja ele da Praia, de Soncnet, Sintanton, Fogo, Brava... está sedente
de mais eventos culturais.
Parece que o
Auditório Nacional - até bem pouco tempo tido como um autêntico Elefante
Branco, começa a ganhar alguns pigmentos diferentes... digamos mais naturais.
Que venham agora outros artistas: Cesária Évora, Tito Paris e a sua Orquestra
(o tal sonho), Tcheca, Princezito, Teatro, dança... pelo menos tud fim-de-seman
um evento, hehehehe (sonhar é bom).
Hah, em jeito
de basofaria: a última música da noite, a tal consolança, foi Fitche
Fatche na Tracolança. Música que relata um "fitche fatche" na Ponta do Sol, vila
sintadezense.