quarta-feira, 24 de abril de 2013

A música em Santo Antão continua pujante

Mais do que a simples arte de combinar os sons de maneira agradável ao ouvido a música tem sido uma fiel companheira das gentes de Santo Antão, ao longo dos tempos, seja no trabalho seja nos momentos de lazer e de comemoração.
 
“Com uma pessoa a cantar marcando o compasso numa lata de petróleo aprendíamos a dançar” dizem os antigos que viam o momento animar-se um bocado mais se aparecesse alguém com uma viola (de 10 cordas) ao peito, e começava o chamado baile de “viola e bico”.
 
Durante muito tempo o violino foi o instrumento-rei das festas na ilha mas nem todos os potenciais violinistas tinham a possibilidade adquirir um violino e, por isso, recorriam à própria criatividade para colmatar essa dificuldade.
 
“Comecei a aprender com uma rabeca de ‘caco de bli (cabaça)’ e só muito tempo depois consegui comprar um violino, a meias com o meu primo António de Roberto que também tocava” conta-nos João do Carmo Santos, um violinista, hoje com 81 anos de idade, que na sua juventude fez mexer muitos pés ao som da sua rabeca.
 
Líder do grupo musical que animava as festas, o violinista dava nome ao grupo e era relativamente mais bem pago do que os músicos que tocavam violão, viola e cavaquinho ou outro instrumento.
Frank Cruz, Muxim de Monte, Muxim Kerena, João do Carmo, Kzik, Júlio Barbeiro, Antoninho Travadinha foram, entre outros, nomes sonantes do violino em Santo Antão. De muitos deles só se sabe o nome porque, não existindo meios técnicos de registo, a sua música nunca chegou aos ouvidos dos mais jovens.
 
Outros, como Travadinha, Kzik e João do Carmo, tiveram melhor sorte pois, seja pela gravação de discos seja pela participação em vários espectáculos, ficaram registados para a posteridade.
Novos tempos trouxeram alguma mudança na música em Santo Antão, com a “voz” a sobrepor-se ao violino na liderança do grupo musical, com a amplificação do sinal sonoro e com a possibilidade de gravação dos trabalhos e pesquisas musicais.
 
Santo Antão deu ao país novos nomes que atingiram lugares cimeiros no panorama musical cabo-verdiano, estrelas como Manuel de Novas, Frank Cavaquim, Antonim Travadinha e tantos outros, nascidos e descendentes, que integram, por mérito, a brilhante constelação musical de Cabo Verde.
 
Novos trabalhos vão surgindo chamando a atenção para a música que se faz nesta ilha, com destaque para “linga de Sentonton”, “Marijoana” e “Lume de Lenha”, do grupo Cordas do Sol, “Recordação” de Nhô Kzik, “Tchuva ê vida” do grupo Mix Cultura, os trabalhos dos grupos Harmonia e Irmãos Unidos ou mesmo o CD “Mornas de Santo Antão e o DVD “Santo Antão: Paisagem & Melodia”.
 
Novos grupos vão surgindo e desaparecendo, nomeadamente, os grupos “Eclipse” e “Nhô Kzik júnior” na Ponta do Sol, Mix Cultura, na cidade da Ribeira Grande, Harmonia e Irmãos Unidos, no Porto Novo, Cordas do Sol, no Paul, e “Ecos da Montanha” em Lombo Branco. Novos artistas e novas vozes vão-se revelando como jovem cantora Sília Laura Oliveira (em formação universitária em Portugal e vencedora de um concurso “Talentos de Santo Antão”), o guitarrista Pelada, o violinista Domingos Costa, para só citar alguns.

Por outro lado, a música, em Santo Antão, tem protagonistas que não a assumem “à profissional” mas que são referências das serenatas e tocatinas entre amigos e em ambientes familiares com Ká, Silvino, Ulisses, Tchikchék, Totone, entre outros.

1 comentário:

  1. Homero,

    Esse artigo está mto interessante e o teu Blog começa a ganhar forma e conteúdo. Tenho a certeza q no cumprimento desse dever académico, vais continuar a brindar-nos com excelentes artigos e q a tua paixão pela escrita vai ebulir.

    Teu Professor de SI

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