Mais
do que a simples arte de combinar os sons de maneira agradável ao ouvido a
música tem sido uma fiel companheira das gentes de Santo Antão, ao longo dos tempos,
seja no trabalho seja nos momentos de lazer e de comemoração.
“Com
uma pessoa a cantar marcando o compasso numa lata de petróleo aprendíamos a
dançar” dizem os antigos que viam o momento animar-se um bocado mais se
aparecesse alguém com uma viola (de 10 cordas) ao peito, e começava o chamado
baile de “viola e bico”.
Durante
muito tempo o violino foi o instrumento-rei das festas na ilha mas nem todos os
potenciais violinistas tinham a possibilidade adquirir um violino e, por isso,
recorriam à própria criatividade para colmatar essa dificuldade.
“Comecei
a aprender com uma rabeca de ‘caco de bli (cabaça)’ e só muito tempo depois
consegui comprar um violino, a meias com o meu primo António de Roberto que
também tocava” conta-nos João do Carmo Santos, um violinista, hoje com 81 anos
de idade, que na sua juventude fez mexer muitos pés ao som da sua rabeca.
Líder
do grupo musical que animava as festas, o violinista dava nome ao grupo e era
relativamente mais bem pago do que os músicos que tocavam violão, viola e
cavaquinho ou outro instrumento.
Frank
Cruz, Muxim de Monte, Muxim Kerena, João do Carmo, Kzik, Júlio Barbeiro,
Antoninho Travadinha foram, entre outros, nomes sonantes do violino em Santo Antão. De
muitos deles só se sabe o nome porque, não existindo meios técnicos de registo,
a sua música nunca chegou aos ouvidos dos mais jovens.
Outros,
como Travadinha, Kzik e João do Carmo, tiveram melhor sorte pois, seja pela
gravação de discos seja pela participação em vários espectáculos, ficaram
registados para a posteridade.
Novos
tempos trouxeram alguma mudança na música em Santo Antão , com a
“voz” a sobrepor-se ao violino na liderança do grupo musical, com a
amplificação do sinal sonoro e com a possibilidade de gravação dos trabalhos e
pesquisas musicais.
Santo
Antão deu ao país novos nomes que atingiram lugares cimeiros no panorama
musical cabo-verdiano, estrelas como Manuel de Novas, Frank Cavaquim, Antonim
Travadinha e tantos outros, nascidos e descendentes, que integram, por mérito,
a brilhante constelação musical de Cabo Verde.
Novos
trabalhos vão surgindo chamando a atenção para a música que se faz nesta ilha,
com destaque para “linga de Sentonton”, “Marijoana” e “Lume de Lenha”, do grupo
Cordas do Sol, “Recordação” de Nhô Kzik, “Tchuva ê vida” do grupo Mix Cultura,
os trabalhos dos grupos Harmonia e Irmãos Unidos ou mesmo o CD “Mornas de Santo
Antão e o DVD “Santo Antão: Paisagem & Melodia”.
Novos
grupos vão surgindo e desaparecendo, nomeadamente, os grupos “Eclipse” e “Nhô
Kzik júnior” na Ponta do Sol, Mix Cultura, na cidade da Ribeira Grande,
Harmonia e Irmãos Unidos, no Porto Novo, Cordas do Sol, no Paul, e “Ecos da
Montanha” em Lombo
Branco. Novos artistas e novas vozes vão-se revelando como
jovem cantora Sília Laura Oliveira (em formação universitária em Portugal e vencedora
de um concurso “Talentos de Santo Antão”), o guitarrista Pelada, o violinista
Domingos Costa, para só citar alguns.
Por
outro lado, a música, em
Santo Antão , tem protagonistas que não a assumem “à
profissional” mas que são referências das serenatas e tocatinas entre amigos e
em ambientes familiares com Ká, Silvino, Ulisses, Tchikchék, Totone, entre
outros.
Homero,
ResponderEliminarEsse artigo está mto interessante e o teu Blog começa a ganhar forma e conteúdo. Tenho a certeza q no cumprimento desse dever académico, vais continuar a brindar-nos com excelentes artigos e q a tua paixão pela escrita vai ebulir.
Teu Professor de SI